Repertorium

"Blogue de notas" da unidade curricular de Análise de Fonogramas e Eventos da Licenciatura em Música variante Produção e Tecnologias da Música, da Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, do Instituto Politécnico do Porto. Um Moleskine virtual cujo tema é "O mundo da música e as músicas do mundo". Orientação do Professor Mário Azevedo

segunda-feira, janeiro 14

La Tarantella

Em 1630, em pleno Barroco[1], uma estranha doença, chamada Tarantismo (ou “Tarantulismo”), atacou a Itália. A causa foi atribuída a uma mordida de uma espécie de aranha – a Tarântula[2]. Os sintomas alternavam entre exaltação e prostração. Com o fito de curar o paciente, e livrar-se da mordida, era necessário imitar a dança da tarântula, segundo um ciclo coreutico-musical bem definido, identificar-se com a aranha e forçá-la a dançar até que se esgotasse, fazendo-a perecer. Para isso compuseram-se as Tarantellas - canções e danças que tentavam criar um estado de transe no paciente, de modo a que este “expulsasse” o veneno através da transpiração.

Esta forma de “cura” tem raízes na catarse musical, proposta pelos pitagóricos, e nos ritos dionisíacos das melodias das bacantes, descritos por Plutarco e por outros autores da Grécia antiga.

Na realidade, as Tarantellas são um fenómeno histórico-religioso, um mundo de lenda, de dor e alegria que dura há séculos[3], e que caracterizou a Itália meridional, em particular a província de Puglia, no final da Idade Média, e que teve grande popularidade até ao século XVIII. A partir daqui, entrou em declínio, sobrevivendo apenas nalgumas partes da Península Salentina.

[1] O período Barroco é uma das mais extensas épocas musicais da música ocidental. Fecunda, revolucionária, importante e, provavelmente, também a mais influente, caracteriza-se pelo uso do baixo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal.
[2] Esta designação tem origem em Taranto, uma pequena cidade do sul da Itália, onde estes insectos existiam em grandes quantidades.
[3] A análise mais atenta do fenómeno do tarantulismo foi efectuada pelo antropólogo Ernesto De Martino, que efectuou um estudo em Salento, Itália, juntamente com um sociólogo, um psicólogo, um musicólogo e um psiquiatra. As investigações, os encontros com as tarântulas e os resultados levaram à publicação, em 1961, do livro "La Terra Del Rimorso".

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