Repertorium

"Blogue de notas" da unidade curricular de Análise de Fonogramas e Eventos da Licenciatura em Música variante Produção e Tecnologias da Música, da Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, do Instituto Politécnico do Porto. Um Moleskine virtual cujo tema é "O mundo da música e as músicas do mundo". Orientação do Professor Mário Azevedo

quarta-feira, janeiro 2

Órgãos do Barroco na Cidade Invicta - I

O Barroco em Portugal

O filósofo e historiador de arte suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) foi o primeiro a usar o termo «barroco» [1], no sentido de «bizarro», «irregular», tendo o termo sido absorvido pela linguagem da história da arte.

O Barroco foi uma corrente estética que floresceu na Europa, aproximadamente entre 1600 e 1750. Caracterizado por uma grande expressividade, exuberância e dinamismo de linhas, representou um papel importante na contra-reforma católica [2]. A arte barroca recorreu a efeitos muito elaborados, de modo a apelar directamente às emoções dos espectadores das obras, particularmente nas vertentes da arquitectura da música e da arte sacra.

Em Portugal o período Barroco não coincide exactamente com o do resto da Europa. Os reinos de Portugal e de Espanha tornaram-se baluartes da contra-reforma católica tendo a Companhia de Jesus sido uma força líder, com grande intervenção nas sociedades ibéricas. Esta influência caracterizou-se, também, no desenvolvimento do Barroco português. Entre 1580 e 1640, Portugal esteve sob o domínio castelhano – devido à crise que teve origem no desaparecimento do rei D. Sebastião, na batalha de Alcácer Quibir, em 1578. Este período é classificado como Maneirista. Há quem considere, mesmo, que o Barroco português é uma extensão do maneirismo, cujos princípios estavam ligados ao Concílio de Trento, ou seja, maioritariamente religioso. As igrejas apresentam, geralmente, a mesma estrutura, ou seja, fachadas simples, decoração contida (exceptuando talvez o altar-mor), planta rectangular. Estas eram as características que marcavam os princípios austeros e rígidos da igreja e do poder régio. Alguns eruditos chamam-lhe o Barroco Severo.

Pode-se balizar o Barroco português entre finais do século XVI, e um princípio do fim desta época a partir de 1756, altura da reconstrução de Lisboa pela mão do Marquês de Pombal [3], no reinado de D. José I. Outros factores também contribuíram para o término do período Barroco em Portugal, entre eles a expulsão dos Jesuítas de Portugal, em 1759. No último quartel do século XVIII, a arquitectura portuguesa começou a ser dominada pelo neoclássico.

O período anterior a 1640 foi dominado, na arquitectura portuguesa, pelo Estilo Chão [4], que dominou até à descoberta de ouro no Brasil, em 1693, o que permitiu uma expansão do Barroco em Portugal.

Na arquitectura, o Barroco foi acompanhado por um outro estilo - o Rococó - que pode ser observado em muitas igrejas deste período.

[1] O termo Barroco quer dizer, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, “pérola de superfície irregular”, existindo quem afirme que este termo é de origem portuguesa.

[2] A contra-reforma foi um movimento iniciado pela igreja católica no concílio de Trento (1545-1563) para cercear o alastramento da Reforma Protestante. Prolongando-se pelo século XVII, os seus principais trunfos foram o crescimento dos jesuítas como grupo educativo e missionário e a utilização da Inquisição na Europa e nas Américas.

[3] Sebastião José de Carvalho e Melo – Marquês de Pombal – foi Secretário de Estado do Reino (primeiro-ministro) entre 1750 e 1777.

[4] Estilo Chão (plain architecture, em inglês) é uma expressão que se refere a um estilo arquitectónico português marcado pela austeridade das formas. O termo foi criado pelo teórico americano George Kubler, para definir este estilo como uma "arquitectura vernácula, mais relacionada com as tradições de um dialecto vivo do que com os grandes autores da Antiguidade Clássica". O Estilo Chão teve início no reinado de D. João III (1502-1557) e trata-se de uma atitude arquitectónica tipicamente portuguesa, nascida da tentativa de preservação da identidade nacional, num período de crise política, económica e social.

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