O Barroco
O historiador de arte suíço Jacob Burckhardt foi o primeiro a usar o termo «barroco», no sentido de «bizarro», «irregular», tendo o termo, no entanto, sido absorvido pela linguagem da história da arte.
O período Barroco é uma das épocas musicais de maior extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e provavelmente também a mais influente. As características mais importantes são o uso do baixo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal, em oposição aos modos gregorianos até então vigente. Na realidade, trata-se do aproveitamento de apenas dois modos: o modo jônio (modo “maior”) e o modo eólio (modo “menor”).
Muitas das inovações associadas com a música Barroca foram estimuladas por um desejo contínuo, já evidente durante o Renascimento, de recuperar a música da antiguidade clássica. Os gregos antigos haviam escrito repetidamente sobre os poderes da música de incitar paixões nos ouvintes. Entretanto, os poucos manuscritos de música Grega Antiga conhecidos na época eram pouco compreendidas, o que permitiu muita especulação sobre a sua natureza. Ao final do século XVI, um grupo de poetas, músicos e nobres, entre eles Vincenzo Galilei, Giulio Caccini e Ottavio Rinuccini, passaram a ser reunir na casa do Conde Giovanni de Bardi em Florença, com a finalidade de discutir assuntos relacionados às artes, e em especial a tentativa de recriar o estilo de canto dos dramas Gregos antigos.
Dos encontros da Camerata Fiorentina, como este grupo passou a ser conhecido, surgiu um estilo musical que estabelecia que o discurso era o aspecto mais importante na música. O ritmo da música deveria ser derivado da fala, e todos elementos musicais contribuíam para descrever o afecto representado no texto. Portanto, este estilo, que logo foi chamado de seconda pratica para contrastar com a polifonia renascentista tradicional ou prima pratica, era composto por uma única parte vocal acompanhada por uma parte instrumental.
Esse acompanhamento era chamado de baixo contínuo, e consistia de uma única melodia anotada, sobre a qual um grupo de instrumentos adicionava as notas necessárias para preencher a harmonia implícita no baixo, frequentemente assinaladas através de cifras indicando os intervalos apropriados. O baixo continuo estabeleceu uma polaridade entre os registros extremos: a melodia aguda e a linha do baixo eram os elementos essenciais, e as partes intermediárias eram deixadas ao gosto dos intérpretes. Nos anos 1630, esta combinação passou a ser designada pelo termo monodia, um estilo que se encontra entre a fala e o canto. Essa flexibilidade permitiu que os solistas ornamentassem as melodias livremente sem precisar se preocupar com regras de contraponto, permitindo assim que demonstrarem o seu virtuosismo. Para tirar máximo proveito da capacidade de cada instrumento ou da voz, os compositores começaram a desenvolver escritas idiomáticas para cada meio, ao contrário da música renascentista onde as partes poderiam ser executadas com instrumentos ou com voz.
Não é possível dizer que o início do Barroco já apresentava um sistema tonal definido, porém se observa uma preferência gradual pelas escalas diatónicas maiores ou menores, e um maior senso de centro de atracção tonal. A emergência da seconda pratica não significou que a tradição polifónica tinha sido suplantada; ambos os estilos coexistiram por todo o período barroco. Claudio Monteverdi publicou madrigais escritos em ambas práticas, e a mesma flexibilidade na escrita também teve lugar na air de cour francesa.
A monodia, combinada com a nova técnica do recitativo, finalmente permitiu aos compositores escrever uma ópera, ou seja, um drama cantado do início ao fim. A ópera L'Orfeo, de Monteverdi, de 1607 é usualmente considerada a primeira obra a combinar música e drama satisfatoriamente. Na Alemanha, Heinrich Schütz adaptou as novas técnicas para alguns de seus motetos sacros policorais, e foi o compositor da primeira ópera alemã, Dafne (1627).
A maior parte da música instrumental publicada nesta época consiste em suites de danças em vários movimentos e as variações sobre transcrições de obras vocais (geralmente intituladas canzonas, partitas ou sonatas) ou sobre baixos ostinatos (chacona ou passacaglia). Géneros livres, como a fantasia e a tocata para instrumentos de teclado também faziam parte destas colecções.
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